terça-feira, 14 de agosto de 2012

Inês submersa, nº2

Como vos disse há pouco, este fim-de-semana capturei uma Inês Submersa na piscina da minha tia Ana.


A Inês Submersa é uma espécie muitíssimo rara (tão rara, aliás, que só há registo da existência de um espécimen em toda a história da humanidade) e, consequentemente, o seu valor é incalculável.

Estava eu calmamente à beira da água, a chapinhar os pés e a pensar no sentido da vida, quando... FLASH!! Um imenso clarão iluminou toda a piscina, tão intenso que, por momentos, tudo à minha volta ficou branco.

À medida que recuperava a visão, comecei a aperceber-me de algo que se movia na água, junto aos meus pés. Convencido de que estava a alucinar (resultado evidente do consumo excessivo das receitas deliciosas da minha tia), mantive-me mudo e imóvel (provavelmente de boca aberta e olhos esbugalhados) enquanto aquele ser maravilhoso se deslocava na água como uma sereia.

A minha pose heróica de estátua embasbacada só se desfez quando a Inês Submersa me tocou no pé e disse, com um sorriso doce:

- Blub. Blugublug, blb...

Claro. Estando ela debaixo de água e eu à superfície, a comunicação não era fácil. Portanto, enfiei a cabeça dentro de água e disse-lhe:

- Nhlub prblub nlub... - (Ou seja, "não percebi nada...")

Pelo ar de indagação desenhado na cara da Inês Submersa, percebi rapidamente que a minha mensagem também não tinha passado.

Mas eu não iria aceitar a derrota. Levantei-me num pulo, corri até à praia mais próxima e pedi a um caranguejo eremita que por lá passava se me emprestava o seu búzio. A negociação não foi fácil, mas acabei por conseguir trocar o empréstimo do búzio por uma maratona de documentários sobre a vida marinha em minha casa.

- Sabes, o meu primo é estrela de documentários, mas nunca o consigo ver porque a TV cabo não abrange a minha área de residência. - Explicou o caranguejo.

- Mas... a tua casa é portátil. Podes ir com ela para onde quiseres, não é?

- Nã, nã. Esta é só a minha casa de férias. Achas que eu ia andar o ano todo com a casa às costas? Nã, nã. Tenho mais que fazer, pá!

Munido de um búzio, corri de volta para a piscina onde a Inês Submersa ainda me esperava. Ajoelhei-me à beira da água, segredei algumas palavras para dentro do búzio e coloquei-o na água. A Inês Submersa encostou-o ao ouvido, fez uma pausa e olhou para mim sorridente antes de segregar também qualquer coisa para dentro do búzio.

Retirei o búzio das mãos dela e pressionei-o firmemente contra o meu ouvido direito, com medo de perder alguma palavra.

- Amor? - Disse a voz dentro do búzio - Estás a sonhar acordado outra vez?

- Não sei.

FIM

P.S. -  Porque gosto muito das duas versões, aqui fica a foto original. Na versão a preto e branco usei um filtro azul para fazer o efeito que podem ver em cima.