terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sonho de uma cidade

Ora bem, voltemos então ao sonho.

Como vos disse antes, passei a noite toda a entrar e a sair de sonhos sem que tivesse tempo para me ajustar. Fechei os olhos e...

WHAM! KRAKAAAAA-POW! KRRRRPUUUM! Estou no meio de uma tempestade. A chuva cai torrencialmente através da noite e atinge-nos como um jacto de água. A única luz que temos é a dos relâmpagos que ocasionalmente rasgam o céu.

Olhando em redor, vejo que estou à entrada de uma gruta cujo interior está coberto em trevas. Não sei se está ocupada. Fico à espera de ouvir o rosnar de um animal selvagem, mas não consigo distinguir nada com o estrondo da chuva e da trovoada.

À minha volta está mais gente: dois homens e três mulheres que não reconheço. Todos estamos cobertos de lama da cabeça aos pés. Tudo está cinzento...

Poderá parecer o cenário ideal para um pesadelo, mas a verdade é que não estou com medo. Pelo contrário, estou excitado com a tempestade e o trabalho que temos pela frente.

Alguém grita:

- Então, Manel!? Toca a cavar como toda a gente!

Pondo as mãos à obra, agarro numa pá e enterro-a na lama. É espessa, mas ao mesmo tempo mole e fácil de deslocar, o que facilita a tarefa. De repente já sei o que temos de fazer (aliás, é como se sempre soubesse) e redobro os meus esforços. Estamos a tentar abrir caminho entre uma enorme poça de lama (quase se poderia chamar um lago) e um riacho que corta caminho pela terra mesmo ao lado da caverna.

Após algumas horas de muitas pasadas, finalmente conseguimos e a água escorre rapidamente para o riacho que entretanto já se tornou num pequeno rio de lama cinzenta e detritos variados - um frigorífico, um carrinho de supermercado, um saco de plástico com um peixinho dourado dentro de água, duas rodas de bicicleta, vários metros de arame, uma porta, etc.

Nisto, alguém olha para o horizonte e diz:


- Olhem ali. Uma cidade.

E no momento em que uma das mulheres aponta para longe, a chuva pára e as nuvens desaparecem. Continua a ser noite, mas agora estamos iluminados pela lua cheia.

- Aquilo não estava ali antes - Digo eu a olhar para um aglomerado de casas que cresce a olhos vistos junto ao sopé de uma cadeia montanhosa. Primeiro barracas, depois casas, prédios, palácios, torres, maiores e maiores e maiores e maiores...

- Se calhar montaram a cidade enquanto trabalhávamos. - Responde um dos meus companheiros.

- Três mil colonos em duas horas e meia? Não me parece. Que estranho.

Junto à montanha a cidade brilha. Mesmo sem distinguir as pessoas que por lá andam, vejo que tem movimento, que tem vida. Quero ir para lá... mas volto a acordar...

Quando estiver novamente a dormir vou tentar lá voltar.

Fiz um pequeno esboço da paisagem do meu sonho. Espero que gostem.

3 comentários:

Ana disse...

Man,
tu sonhas, escreves e ilustras...muito bom, eu não tenho ñoites mal dormidas assim tão produtivas!
Beijokas
Cunhas
Ana

Makira disse...

É pá!! Fiquei curiosa com o possível desenrolar desta história sonhada! Por favor, volta a ter noites mal dormidas!!
Beijos

Só-Inês disse...

Como diz o poeta: "o sonho comanda a vida... Pôr os nossos sonhos no papel (neste caso na web) ajuda a percebê-los, a recordá-los e também a relacioná-los com a altura da vida que estamos a atravessar quando o sonhamos.
E a ti Manel, que te diz este sonho?
Beijo grande