terça-feira, 2 de outubro de 2012

Levado por uma onda de luz (prefácio)

Não estou com muito tempo neste momento, mas não queria deixar passar mais uma eternidade antes de publicar alguma coisa no blog. Por enquanto deixo-vos só com uma imagem e a promessa de partilhar convosco em breve um pequeno conto que me atropelou os neurónios depois de eu ter tirado esta foto.

Vou tentar escrevê-lo até amanhã, mas quanto a isso já não faço promessas.

"I love deadlines. I like the wooshing sound they make as they fly by." - Douglas Adams

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Adeus ao Verão, nº4

Este fim-de-semana teve lugar o Big Bang - Festival Europeu de Música e Aventura para Crianças, de cuja organização eu faço parte. Os preparativos para um festival como este começam assim que a edição anterior acaba (neste caso em Outubro de 2011), mas a última semana antes do evento é sempre a mais agitada. Passei vários dias a chegar tarde a casa, comer qualquer coisa rápida e enterrar a cabeça na almofada sem sequer ter tempo para dizer Supercalifragilisticexpialidoscious antes de adormecer.

Com tanta correria, acabei por não conseguir terminar a série "Adeus ao Verão" durante a semana passada. Então, para terminar, aqui fica mais uma foto.

P.S. - O Big Bang voltou a ser um sucesso. Estamos todos estafados, mas o esforço valeu a pena. Durante dois dias o CCB foi o epicentro de um vórtice de espanto e alegria que sugou todos os que se atreveram a lá entrar.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Adeus ao verão, nº2 (e duplo tchim-tchim para mim)

Sem dar por isso, ontem publiquei a minha ducentésima quinquagésima (250ª) mensagem aqui na Esfera de Sonhos.

Além disso, também sem dar por isso, no passado dia 17 a Esfera de Sonhos fez quatro anos. Pois é, a primeira mensagem deste blog foi publicada no dia 17 de Setembro de 2008. Mas este meu espaço de devaneios nunca esteve tão activo como neste ano. Aliás, em 2012 já fiz quase o dobro dos posts publicados ao longo dos restantes três anos somados.

Portanto, permitam-me um momento de auto-apreciação e façamos um brinde à Esfera de Sonhos.

Tchim-tchim!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Adeus ao verão

Em homenagem ao Verão que parece estar agora a dar-nos os seus últimos pores-do-sol, esta semana só vou publicar fotos tiradas na praia. Estas serão fotos que, na minha opinião, são sugestivas do final de uma história (neste caso a história do Verão) ou do início de outra (a do Outono).

sábado, 22 de setembro de 2012

O povo saiu à rua num dia assim, outra vez (Manifestação, 21 de Setembro, 2012)

Muitos milhares (vinte milhares?) de pessoas saíram outra vez à rua em protesto contra as políticas do actual Primeiro Ministro e o seu séquito neoliberal.

E foi lindo!

terça-feira, 18 de setembro de 2012

"Tem remédio para a Embolia Parlamentar?"

Numa banca na rua, um homem vendia ervas para todas as maleitas.

- Boa tarde. - disse eu - Tem alguma coisa para a Tensão Salarial Baixa?

- Infelizmente não, amigo. Esgotámos há coisa de seis meses e não sabemos quando voltará a haver.

- Ah... Então e para Varizes Governamentais?

- Não.

- Dores Ministeriais?

- Também não...

- Embolia Parlamentar?

- Er... espere só um bocadinho... - E desapareceu por baixo da bancada durante alguns segundos antes de emergir novamente com um ar desapontado - Pois. Também não. Mas olhe que temos um restinho de erva para a Insuficiência Política Crónica.

- Uau! - O meu entusiasmo era tal que, quando dei por mim, estava dar pulinhos no ar e a bater palmas como uma criança prestes a abrir as prendas na noite de Natal. - Ena, ena, ena! Granda pinta! E quanto custa?

- Bom, tendo em conta a actual conjuntura económica, as mordomias do mercado de capitais e as medidas impostas pelo memorando da Troika, o preço da erva para a Insuficiência Política Crónica está nos... - Com uma ligeira pausa no discurso, o vendedor retirou uma enorme calculadora de dentro de um alguidar e continuou - ... ora, deixe cá ver... cinco vezes três... hm... noves fora nada... mais sete porcento... a dividir por 0,7421235996... hmhm... Cá está!

- Então, está nos quê? Quanto é?

- Exactamente 189 mil e 979 milhões de Euros por quilo! - Respondeu, com um sorriso vitorioso.

- Mas... mas isso é o valor da dívida pública portuguesa.

- Ai é? Ah... Pois. Mas olhe que a calculadora não se engana. E então? Quer levar?

- Não, não. Deixe estar. Dê-me antes um saquinho de erva para a azia. Fiquei um bocadinho mal disposto...


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

domingo, 16 de setembro de 2012

"Pst... Achas que desta vez ouviram?" (Manifestação, 15 de Setembro, 2012)

Os números oficiais ainda não foram divulgados, mas há quem diga que cerca de 500 mil pessoas saíram à rua em Lisboa e outras centenas de milhares em todo o país para o que deve ter sido a maior manifestação em Portugal deste o 1º de Maio de 1974.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

"Lagarto, lagarto!"

Para terminar este penúltimo dia da série dedicada à Feira Medieval de Castro Marim, aqui ficam fotos de alguns bichos que não esperava encontrar numa reconstituição medieval.

Na primeira foto, podem ver o Sr. Bonifácio Reboliço, lagarto de poucas palavras, mas certo do seu pensamento.

O cavalheiro de verde chama-se Ludovico Lázaro e é um tarado do jogging. Três vezes por dia tem de sair para "dar uma corridinha até ali e já volto".

Esta senhora é a D. Esquivel Cascavel que, apesar de não ser verdadeiramente de origem cascavélica, herdou o apelido de uma avó que mudou de nome após a conclusão trágica de uma história de amor.

Este tipo é fanfarrão e tem a mania de dizer que dá cabo de qualquer um. Diz que se chama Godzilla...


Por fim, apresento-vos D. João Camaleão Q'Só Sabia Dizer Q'Não, antigo monarca de um reino longínquo que foi deposto pelos seus súbditos oprimidos. Um dia destes conto-vos a história.

Além destes personagens, estavam lá também vários tipos de sapos, uma considerável variedade de cobras, tartarugas e aranhas.


A barraca onde os animais estavam expostos tinha dimensões algo reduzidas para o número de pessoas que a frequentavam. Isso não facilitou muito a tarefa de os fotografar (aos animais, não às pessoas, entenda-se. Se bem que algumas pessoas comportavam-se como animais... Mais até do que os próprios... Acho que vi um tipo pendurado numa viga a balançar num só braço enquanto emborcava mais uma caneca de vinho e uivava "Ó Quim! 'nda cá ver! Tá'qui 'ma cobra!" Mas se calhar alucinei.... Enfim, estou a dispersar. Não liguem).

Bode velho em Castro Marim

Depois do meu desabafo da passada sexta-feira, no seguimento do discurso do Primeiro Ministro, hoje já posso voltar às fotos da Feira Medieval de Castro Marim (eu avisei que esta série era grande).

Hoje o tema é "Animais". Por agora deixo-vos com duas fotos deste bode. Segue-se mais bicharada ao longo do dia.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Aqui há galo, nº2 (ou "Que se foda o Coelho!")

Quando fotografei este galo, estranhei a expressão de desconfiança e intimidação que estava estampada no bicho. Mas hoje vi-me ao espelho logo a seguir ao discurso do nosso Primeiro e reparei que a minha expressão era exactamente a mesma...

Por qualquer razão, lembrei-me daquele velho anúncio dos chocolates Fantasias de Natal: "O Coelhinho veio com o pai natal e os palhaços no comboio ao circo... e comeu-os!"

(Peço desculpa aos leitores mais sensíveis, não só por destruir a infância alheia através das minhas memórias conturbadas, mas também pelo título pouco próprio a menores).

Feira Medieval de Castro Marim - Cavaleiros

Uma das atracções da Feira Medieval de Castro Marim é o torneio medieval. Estava imenso público e, por causa disso, fiquei um pouco longe da acção, o que me impediu de tirar fotos mais pormenorizadas. Mas acho que até me safei (pelo menos com estas quatro fotos).

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Feira Medieval de Castro Marim - Pessoas

Durante a Feira Medieval de Castro Marim, os habitantes, comerciantes e artistas de rua andam vestidos a rigor. E já estão tão habituados a estas andanças que até parece que nunca se vestiram de outra forma.

Feira Medieval de Castro Marim - Cavalos

Durante os primeiros dias de férias no Algarve, a minha inspiração fotográfica resolveu tirar as suas próprias férias e desapareceu sem deixar rasto. Mais ou menos a meio da semana recebi um SMS mental da minha inspiração a dizer que estava numa ilha das caraíbas, que estava a tirar um curso de mergulho e que não estava para me aturar.

Felizmente, quando eu e a minha Inês resolvemos visitar a Feira Medieval de Castro Marim, a inspiração voltou (a resmungar e a espernear, mas voltou). E foi então que tirei estas fotos. Os cavalos são animais incríveis.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Mãe de Água de Lisboa, nº1

Já andava há muito tempo com vontade de voltar a visitar o Reservatório da Mãe d'Água de Lisboa. Na última vez (e única, se bem me lembro) que lá tinha ido era eu ainda um petiz e tenho boas memórias da experiência.

domingo, 2 de setembro de 2012

Jardim Botânico de Lisboa, nº3

E pronto, aqui fica a última desta série de fotos do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa. Ainda tinha mais, mas por agora chega.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Jardim Botânico de Lisboa, nº1

Os próximos dias da Esfera de Sonhos vão ser dedicados às fotos que tirei durante as férias, mas que não tive possibilidade de publicar.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Uma floresta na água


Fui de férias e deixei o blog pendurado. Ainda por cima com a promessa de um conto... Não se faz!

Mas já estou de volta. Portanto, sem mais adiamentos, aqui fica "Uma floresta na água".


Esta é a história do João, um miúdo que vivia sozinho numa cabana numa floresta no fundo de um vale.

A casa do João tinha sido construída por ele mesmo no centro do vale, junto ao riacho, no ponto em que se encontravam as duas montanhas que o ladeavam. Para evitar as correntes de água que invadiam as margens do riacho em alturas de maior chuva, o João construiu a sua cabana no cimo da árvore mais antiga do vale, um velho carvalho tão velho, tão velho que já era velho quando os tetra-tetravós dos velhos da região ainda eram tão novos quanto o João.

Ninguém sabe ao certo porque é que o João vivia sozinho no cimo daquela árvore. Há quem diga que era órfão, há quem diga que não. Há quem diga que era filho do alfaiate, há quem diga que isso é disparate. Há quem diga que era selvagem, há quem diga que se perdeu numa viagem. Ninguém sabe.

O que todos sabiam é que o João era um miúdo feliz e que todos gostavam dele. Quando os restantes habitantes do vale se cruzavam com ele eram sempre brindados por um enorme sorriso e muitos abraços. Mesmo quando passava a correr (o que era muito frequente), o João parava sempre para cumprimentar convenientemente toda a gente.

O que poucos sabiam é que, na verdade, o João não vivia sozinho. Ou melhor, não vivia com ninguém, mas estava sempre acompanhado.

Baralhados? Bom, eu explico.

Para o João, toda a floresta era sua companheira. Quando era muito pequenino, enquanto as restantes crianças do vale aprendiam a falar português, o João aprendia a falar arvorês, riachês e passarês. Enquanto as restantes crianças do vale aprendiam a ler e a escrever, o João aprendia a ouvir e a falar a música da floresta.

O seu maior companheiro era precisamente o carvalho onde tinha construído a cabana. Os dois costumavam conversar durante horas, ao longo das quais o João contava sobre as suas aventuras do dia e sobre as novas descobertas que ia fazendo. Em contrapartida, o carvalho falava-lhe sobre tudo o que tinha testemunhado ao longo de mais de 1000 anos de vida.

Certo dia, alguns rapazes e raparigas da aldeia mais próxima dirigiram-se ao carvalho, à procura do João. Nos seus rostos, traziam a expressão habitualmente reservada ao portadores de más notícias: A alguns quilómetros a sul dali, uma nova barragem tinha acabado de ser construída e todos habitantes deveriam evacuar o vale. Dentro de algum tempo, toda a floresta estaria submersa...

Ao longo das semanas que se seguiram, o João assistiu à partida de toda a gente, fazendo questão de se despedir convenientemente dos seus amigos mais próximos. Como sempre, com um grande sorriso e muitos abraços. Muitos insistiram com ele para que os acompanhasse. Alguns até se ofereceram para lhe dar casa, comida e amizade eterna. O João aceitou de bom grado as ofertas de amizade, mas recusou tudo o resto.

Enquanto as águas subiam, centímetro a centímetro, dia após dia, o João manteve-se na sua cabana. Do cimo do carvalho milenar assistiu ao êxodo frenético dos animais da floresta, relutantemente à procura de terras mais altas e secas.

Enquanto as águas subiam, centímetro a centímetro, dia após dia, o João assistiu ao desaparecimento gradual das plantas do vale. Os arbustos, as árvores pequenas, as árvores médias, as árvores grandes, as árvores maiores. Gradualmente, o tronco do carvalho encolhia também, como se as águas engolissem um ano de história do vale por cada centímetro de cortiça.

Ano após ano, centímetro a centímetro, dia após dia.

Quando as margens do riacho deixaram de pertencer a um riacho, mas sim a um lago, quando a água invadiu finalmente o chão da cabana do João, o rapaz abraçou com todas as suas forças o tronco principal do velho carvalho e disse baixinho, como se segredasse a um ouvido invisível:

"Obrigado, pai".

E desapareceu na casca da árvore.

Agora, vários anos depois de o vale ter sido submerso nas águas da barragem, há quem repare por vezes no que parece ser uma floresta no fundo do lago. A maioria não liga, julgando tratar-se de um mero reflexo na água. Mas os mais atentos irão reparar que não existe nenhuma árvore nas suas margens.

domingo, 19 de agosto de 2012

Uma floresta na água (prefácio)

Só por si, esta foto que tirei numa tarde à beira da piscina não me sugeriu nada para escrever. Mas quando escolhi o título começaram logo a borbulhar na minha cabeça os ingredientes para mais uma pequena história.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Inês submersa, nº2

Como vos disse há pouco, este fim-de-semana capturei uma Inês Submersa na piscina da minha tia Ana.


A Inês Submersa é uma espécie muitíssimo rara (tão rara, aliás, que só há registo da existência de um espécimen em toda a história da humanidade) e, consequentemente, o seu valor é incalculável.

Estava eu calmamente à beira da água, a chapinhar os pés e a pensar no sentido da vida, quando... FLASH!! Um imenso clarão iluminou toda a piscina, tão intenso que, por momentos, tudo à minha volta ficou branco.

À medida que recuperava a visão, comecei a aperceber-me de algo que se movia na água, junto aos meus pés. Convencido de que estava a alucinar (resultado evidente do consumo excessivo das receitas deliciosas da minha tia), mantive-me mudo e imóvel (provavelmente de boca aberta e olhos esbugalhados) enquanto aquele ser maravilhoso se deslocava na água como uma sereia.

A minha pose heróica de estátua embasbacada só se desfez quando a Inês Submersa me tocou no pé e disse, com um sorriso doce:

- Blub. Blugublug, blb...

Claro. Estando ela debaixo de água e eu à superfície, a comunicação não era fácil. Portanto, enfiei a cabeça dentro de água e disse-lhe:

- Nhlub prblub nlub... - (Ou seja, "não percebi nada...")

Pelo ar de indagação desenhado na cara da Inês Submersa, percebi rapidamente que a minha mensagem também não tinha passado.

Mas eu não iria aceitar a derrota. Levantei-me num pulo, corri até à praia mais próxima e pedi a um caranguejo eremita que por lá passava se me emprestava o seu búzio. A negociação não foi fácil, mas acabei por conseguir trocar o empréstimo do búzio por uma maratona de documentários sobre a vida marinha em minha casa.

- Sabes, o meu primo é estrela de documentários, mas nunca o consigo ver porque a TV cabo não abrange a minha área de residência. - Explicou o caranguejo.

- Mas... a tua casa é portátil. Podes ir com ela para onde quiseres, não é?

- Nã, nã. Esta é só a minha casa de férias. Achas que eu ia andar o ano todo com a casa às costas? Nã, nã. Tenho mais que fazer, pá!

Munido de um búzio, corri de volta para a piscina onde a Inês Submersa ainda me esperava. Ajoelhei-me à beira da água, segredei algumas palavras para dentro do búzio e coloquei-o na água. A Inês Submersa encostou-o ao ouvido, fez uma pausa e olhou para mim sorridente antes de segregar também qualquer coisa para dentro do búzio.

Retirei o búzio das mãos dela e pressionei-o firmemente contra o meu ouvido direito, com medo de perder alguma palavra.

- Amor? - Disse a voz dentro do búzio - Estás a sonhar acordado outra vez?

- Não sei.

FIM

P.S. -  Porque gosto muito das duas versões, aqui fica a foto original. Na versão a preto e branco usei um filtro azul para fazer o efeito que podem ver em cima.

Inês submersa

Primeira foto do dia.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Leitura nas nuvens

Quando estou a ler, o resto do mundo desaparece.


Se não estiver a caminho da inconsciência causada pelo cansaço ou pelo sono, basta-me ler uma ou duas linhas e puf! Deixo de ser "Manel, o tipo a ler um livro" e passo a ser "Manel, o observador invisível de uma história que não é a dele".

Por vezes, fico de tal forma imerso nas letras que me esqueço de coisas elementares... como a lei da gravidade, por exemplo. Sem dar por isso, acabo muitas vezes por descolar-me do chão e flutuar, à deriva pelo espaço.

O problema, como deverão calcular, é quando interrompo a leitura.

"Ena. Este livro é mesmo bom. Até parece que estou a voar", penso eu imediatamente antes de perceber que estou mesmo. "Mas, que...?", este último meio-pensamento é rapidamente seguido pela inevitável vocalização da expressão "AAAAAAAAAAAHHHHH!!!" e pela reverberação do som "BADUUUM!!".

Felizmente, quando me lembro da lei da gravidade, ainda demoro um pouco até me lembrar de que não é suposto ficarmos inteiros quando caímos do céu. Poderia ser pior, portanto. Como nas vezes em que me esqueço da teoria da força nuclear fraca e, sem dar por isso, desintegro-me e fico espalhado pelos quatro cantos do universo...

Nessas vezes, demoro sempre um pouco mais a voltar à Terra.

(Na foto podem ver a contracapa de "The Men Who Stare at Goats", de Jon Ronson.)


Entardecer em Lisboa, nº10


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Entardecer em Lisboa, nº9 ("Aceso ou apagado?")

Já andava há uns dias para conseguir tirar esta foto. Não sei se é perceptível, mas as luzes deste candeeiro estão apagadas. Parecem acesas porque o candeeiro está em contraluz.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Manel e a conspiração dos peixes, 2ª parte


Como vos tinha dito ontem, estive na Biblioteca Esquecida dos Assuntos Submersos à procura de uma explicação para a conspiração dos peixes.

Na recepção falei com o Sr. Eliseu, bibliotecário extraordinário, e expliquei-lhe a minha situação.

- Boa tarde Sr. Eliseu. Como está? Os caranguejos voadores continuam a dar-lhe problemas?

- Hrm. Bah. - Resmungou o ancião, antes de desencostar o nariz do livro de registos - Que praga, meu jovem. Demorei quase dois anos para conseguir livrar-me das Cnidaria Scyphozoa Cantanti e agora tenho as prateleiras cheias destes Callinectes Sapidus Volitans que só querem saber de livros sobre "pensamento lateral".

- Realmente... Alguma coisa que eu possa fazer?

- Não, não. Hrm. Isto há de se resolver. - Respondeu com um ar sereno, antes de se levantar bruscamente, dar um valente murro na mesa e gritar com todo o poder dos seus pulmões - SEUS MARGINAIS!

Durante alguns segundos o Sr. Eliseu ficou ali, parado como uma estátua, de punho erguido aos céus e uma expressão de fúria no rosto, cujas rugas despertavam memórias de um o mar revolto numa noite de tempestade.

- Hrm. Mas diga lá, meu jovem. O que trás por cá? - A fúria desapareceu tão rapidamente quanto apareceu.

- Bom. Sabe. Acho que existe uma conspiração de peixes contra mim.

- Ah, sim? E porque é que diz isso? 

- Porque, ao contrário das outras pessoas, nunca consigo comer peixe sem cravar espinhas nas gengivas. A conclusão é irrefutável.

- Hrm. Acho que já li qualquer coisa sobre isso... Só um momento.

Num piscar de olhos, o Sr. Eliseu deslizou como uma enguia entre uma parede de estantes e o que parecia ser um enorme ídolo pertencente a uma qualquer civilização esquecida.

Enquanto esperava, distraí-me a observar o que faziam os restantes clientes da biblioteca.

Junto à proa de um colossal navio onde se lia o nome "Argo", o deus assírio-babilónico Dagon e o Adamastor riam-se a bandeiras despregadas enquanto trocavam excertos de H.P. Lovecraft e Camões. Um pouco mais perto, dentro de uma garrafa de rum poisada na terceira prateleira de uma estante feita de coral, o Neils Olgerson contava histórias da sua maravilhosa aventura a um liliputiano gordo e claramente cheio de sono.

- Aqui está, meu jovem. Hrm. - Disse o Sr. Eliseu, enquanto me entregava cinco volumes escritos numa língua estranha.

- Muito obrigado. Mas eu não ser ler esta...

- Balquinaquês.

- Isso. Não sei ler balquinaquês.

- Não se preocupe. Hrm. Aqui está um dicionário Balquinaquês-Português.

Munido de toda a informação necessária, entreguei-me à árdua tarefa de decifrar os livros que me foram entregues. Naturalmente, comecei pelos títulos, não só porque estava curioso sobre a identidade daqueles tomos ricos em conhecimento, mas também porque sou preguiçoso e só tinham uma palavra cada um.

Consultando o dicionário, decifrei rapidamente o primeiro título:

"aprende"

O segundo:

"a"

O terceiro:

"usar"

O quarto:

"os"

E finalmente o quinto:

"talheres".

FIM

terça-feira, 31 de julho de 2012

Manel e a conspiração dos peixes, 1ª parte


Ontem comi carapaus ao jantar e, como é hábito, trinquei e cravei nas gengivas uma dose considerável de espinhas. Por muito que esgravate o peixe antes de meter uma garfada à boca, não há maneira de me livrar daquelas navalhas de esqueleto marinho perfeitamente camufladas no meio da carninha suculenta.

No entanto, farto-me de ver outras pessoas a comer peixe sem se queixarem. Passam com a faca aqui (zip), passam com a faca ali (zup), afastam as espinhas dorsais (zup-tic), separam metade do peixe num movimento único e fluído (zip-plec) e procedem a ingerir o dito cujo com enormes garfadas absolutamente livres de espinhas (gulp, naturalmente) . Eu, por outro lado, acabo sempre em batalhas dignas de um documentário da National Geographic, a debater-me com autênticas adagas que tentam chegar ao meu cérebro através do céu da boca.

Parece-me, portanto, que existe uma conspiração contra mim. Os peixes estão decididos a tramar-me, mesmo depois de mortos!

Ao chegar a esta conclusão cuja veracidade é evidente e inabalável, decidi pesquisar as razões que levaram a tão maquiavélico plano. Para isso, desloquei-me à Biblioteca Esquecida dos Assuntos Submersos (que só é acessível através da ponte de raios de sol que aparece em Lisboa ao final do dia) e pedi ao Sr. Eliseu, bibliotecário extraordinário, toda a informação que tivesse sobre peixes e espinhas.

A Biblioteca Esquecida dos Assuntos Submersos é um lugar vasto onde estão arquivados todos os segredos esquecidos nas profundezas dos oceanos. É lá que estão guardados os ossos do primeiro Kraken e os restos ferrugentos de vários navios desaparecidos no Triângulo das Bermudas. É lá que estão os pergaminhos da biblioteca da Atlântida e os escafandros do Nautilus. Nas minhas visitas aos corredores da biblioteca é frequente encontrar por lá muita gente curiosa, como o Tritão, que invariavelmente tenta convencer o Sr. Eliseu a não pagar multa por entregar livros em atraso, ou a ninfa Loreley, que insiste em cantar "I am a rock", de Simon e Garfunkel, (o que naturalmente não é muito bem visto pelo Sr. Eliseu e os restantes visitantes) enquanto lê livros sobre naufrágios nos rios da Alemanha.

Estou a dispersar.

Atendendo ao meu pedido, o Sr. Eliseu, bibliotecário extraordinário, trouxe-me vários volumes sobre o assunto desejado. Foi aí que descobri a verdade sobre a conspiração dos peixes...

Mas o resto da história fica para amanhã. Este texto já está muito longo e tenho mais que fazer.

Até amanhã.

(Nota, 1 de Agosto: Já podem ler a conclusão aqui.)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

"M"


Com esta coisa de começar a escrever contos associados às fotos, acabei por me entalar. Agora fico a achar que é poucochinho quando só publico fotografias e não escrevo nada.

Mas para escrever preciso de ter a cachimónia desimpedida durante um bocadinho e hoje não estou a conseguir.

Por isso, é desta que vos deixo mesmo só com a foto do dia.